Acervo Galeria de Arte

Juraci Dórea

Juraci Dórea Falcão (Feira de Santana BA 1944)
Escultor, pintor, desenhista, fotógrafo, programador visual.

Gradua-se em arquitetura pela Universidade Federal da Bahia, UFBA, em 1968. Na década de 80, inicia o Projeto Terra – voltado à criação de grandes esculturas de couro e madeira, além de murais, no sertão baiano e é agraciado com a bolsa de Apoio à Produção de Artistas Plásticos oferecida pelo Concurso Ivan Serpa/MEC/Funarte/Inap/Capes, Rio de Janeiro. Em 1990, realiza o Projeto Canudos, no Teatro Castro Alves e no Açude de Cocorobó, em Salvador, em colaboração com Washington Falcão.

Críticas

“(…) A proposta de Dórea é outra (…) ´fazer uma arte sem referências urbanas e mostrá-la no próprio ambiente que a inspirou, o sertão´. Ou seja, ele pretende colocar-se a contra-caminho da história da arte. Curiosamente, porém, ao agir assim, ele vem resolvendo, ou pelo menos situando, no meio rural, questões que há muito preocupam os produtores e ideólogos de uma arte essencialmente urbana. (…) Ao expor seus quadros em feiras livres, alpendres, abrigando-os em varais à sombra de ´frondosos umbuzeiros, quais insólitos outdoors entre cabras, bois magros e xiquexiques´, ou pintando seus murais em velhos muros de adobe ou taipa em algum rincão perdido do sertão, Juraci Dórea está realizando, à sua maneira, ´arte pública´, levando à prática um velho sonho dos museólogos, o ´museu ao ar livre´, assim como participa, no seu espaço, do novo surto muralista, hoje um fenômeno mundial. E como os mexicanos, no passado, e os chicanos, hoje, usa o mural para falar de coisas próximas ao real que cerca as populações locais, de suas tradições, hábitos, mitos e lendas”.
Frederico Morais
MORAIS, Frederico. A arte popular e sertaneja de Juraci Dórea: uma utopia?. Salvador, Cordel, 1987. (Documentos,4).

“Eis a verdadeira terra dos cactos. Eis o sertão de Juraci Dórea. Aquele mesmo retratado por Euclides: palco da mais absurda guerra da nossa história. Canudos, cidadela de esfarrapados guerreiros, hoje submersa nas águas do Vaza-Barris, apenas uma paisagem azul entre pequenas serras. Ali o artista fincou varas toscas, cobriu-as com alguns meios de sola, amarrou-as com firmeza e largou-as no tempo. Não incomodavam sequer os passarinhos: nada havia de estranho. O sertão era mesmo aquilo: varas toscas, couros secos, abandono. Eis a proposta de Juraci Dórea. Uma arte para ninguém, pensaríamos. Porque um vernissage em tal salão, ao lado de naturezas-vivas como mandacarus, os xiquexiques, as cabeças-de-frade, os gravatás, as palmatórias, e mais calangos, escorpiões, jararacas, teiús, cutias, parece não se dirigir a ninguém. (…) Apenas em parte. Aquela parte a mais pura de uma intenção. A que chamaríamos de ideal. Na realidade, essa proposta foi levada à presença das pessoas: beiras de estradas, terreiros, feiras livres. E as pessoas – gente do lugar, tabaréus – fizeram dela o mais variado uso, de consonância com sua índole: amarraram animais, recostaram-se para uma prosa, destambocaram para fazer loros, ou admiraram a ‘instúcia’ do artista”.
Antônio Brasileiro
Brasileiro, Antônio. Juraci Dórea: o sertão de Juraci Dórea. In: Bienal Internacional de São Paulo, 19. , 1987. Catálogo geral. p. 132.

“(…) Inicialmente surgiram os vaqueiros em suas pinturas a óleo. A seguir, ele começou a trabalhar em couro, uma série que chamou de ESTANDARTES DO JACUIPE. (…) Suas primeiras esculturas foram feitas ainda perto de Feira de Santana, no meio do pasto, num lugar denominado Tapera, fora da cidade. A seguir ele começou a instalar algumas em Monte Santo. Finalmente com o prêmio da Bolsa Ivan Serpa, da Funarte, Juraci teve condições de prosseguir com o seu trabalho realizando esculturas até mesmo no Raso da Catarina. Ao lado dessas esculturas em couro, um trabalho paralelo começou a ser desenvolvido a partir de 1984. Ele começou a pintar painéis na taipa que faz o muro das casas da caatinga. Algumas dessas pinturas ele já havia feito sobre tela mas elas parecem curiosos frisos medievais, lembram desenhos de cordel, mas ao mesmo tempo têm a sua identidade própria – são cenas de muitos personagens, vistos de perfil, num alinhamento com muito ritmo e quase sempre com um tratamento de pouca cor e muito uso do branco e negro”.
Justino Marinho
MARINHO, Justino. Juraci Dórea: formas no sertão. Galeria: revista de arte, São Paulo: Area Editorial, n. 9, p. 88-90, 1988.

Aí está a originalidade de Juraci. Sua arte do sertão ficar no sertão. Ser caçadora e caça. Ser fome e alimento. É o personagem sendo seu próprio narrador com sertão e sertanejo integrados neste diálogo que ultrapassa mero conceito estético, mesmo que o sertão vire mar e estas esculturas tenham sala na Bienal Internacional de São Paulo e representem o Brasil na Bienal de Veneza. O conceito estético do sertão, até quando? continua sendo a seca, a pobreza, a miséria, e esta arte, popular em seus meios e materiais, traduz o conforto, afirma a denúncia e diz do meio material cotidiano do sertanejo e do sertão da Bahia. Transformar-se em objeto poético não modifica que o couro é meio de vida e as varas, a paisagem campestre do sertanejo. Transformar-se, em objeto poético, couro e varas, apenas afirma: o sertão jamais é mar”.
Claudius Portugal
PORTUGAL, Claudius. Juraci Dórea. Exu, Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado, n. 33, 1993. Encarte.

“Assim como nenhum indivíduo vive isolado e independente do resto do mundo, também a sociedade está idealmente presente no espírito do artista quando cria. Ao se apropriar de todo esse imaginário dos sertões do Brasil, transformá-lo em arte pura e apresentá-la em feiras livres, alpendres, mercados ou pintando murais em paredes de taipa e de adobe, ou, ainda, fincando suas esculturas-totens em locais ermos e solitários, Juraci Dórea realiza uma arte pública, aberta, com interferência direta do homem e do próprio tempo (que atua modificando suas esculturas), concretizando, possivelmente, um projeto interior seu, de ocupar todos os espaços da terra (utopia?) para sinalizar ao homem que a arte tem papel unificador e que a obra de arte deve ser instrumento para a paz e a fraternidade entre os povos”.
Eduardo Evangelista
Evangelista, Eduardo. Juraci Dórea. In: Dórea, Juraci. Juraci Dórea. n. p.

Exposições Individuais
1962 – Feira de Santana BA – Individual, na Biblioteca Municipal Arnold Silva
1965 – Salvador BA – Individual, na Galeria Usis
1973 – Salvador BA – Individual, na Fundação do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia
1980 – Feira de Santana BA – Individual, no Museu Regional
1980 – Salvador BA – Individual, no MAM/BA
1984 – Feira de Santana BA – Individual, no Campo do Gado
1985 – Feira de Santana BA – Terra – Juraci Dórea, exposição itinerante patrocinada pelo Desenbanco
1985 – Canudos BA – Terra – Juraci Dórea, exposição itinerante patrocinada pelo Desenbanco
1985 – Raso da Catarina BA – Terra – Juraci Dórea, exposição itinerante patrocinada pelo Desenbanco
1985 – Monte Santo BA – Terra – Juraci Dórea, exposição itinerante patrocinada pelo Desenbanco
1996 – Lisboa (Portugal) – Individual, no Espaço Oikos
1999 – Paris (França) – Projet Terre
Exposições Coletivas
1978 – Rio de Janeiro RJ – 1º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MNBA
1979 – São Paulo SP – 15ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1979 – São Paulo SP – Mostra de Escultura Lúdica, no Masp – Prêmio de Melhor Mostra do Ano, pela APCA
1979 – Vitória ES – 5 Artistas Baianos, na Fundação Cultural do Espírito Santo
1980 – Curitiba PR – 37º Salão Paranaense, no Teatro Guaíra
1980 – Salvador BA – Proposta 80, no MAM/BA
1981 – Rio de Janeiro RJ – 4º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ
1983 – Curitiba PR – 5ª Mostra do Desenho Brasileiro, no Teatro Guaíra
1983 – Feira de Santana BA – Quatro Dias de Arte, no Clube de C. Cajueiro
1983 – Recife PE – 36º Salão de Artes Plásticas, no Museu do Estado de Pernambuco – prêmio aquisição e Prêmio José Gomes Figueiredo, pelo conjunto de obras
1983 – São Paulo SP – Artistas Contemporâneos da Bahia, no MAC/USP
1984 – Belo Horizonte MG – 16º Salão Nacional de Arte, no MABH
1984 – Feira de Santana BA – Coletiva, no Campo do Gado
1984 – Fortaleza CE – 7º Salão Nacional de Artes Plásticas
1984 – Recife PE – 37º Salão de Artes Plásticas – prêmio aquisição
1984 – Rio de Janeiro RJ – 1ª Fotonordeste, na Funarte
1984 – Rio de Janeiro RJ – 7º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ
1985 – Atami (Japão) – 7ª Exposição de Belas Artes Brasil-Japão
1985 – Kyoto (Japão) – 7ª Exposição de Belas Artes Brasil-Japão
1985 – Recife PE – 38º Salão de Artes Plásticas
1985 – Rio de Janeiro RJ – 7ª Exposição de Belas Artes Brasil-Japão, na Fundação Brasil-Japão
1985 – Rio de Janeiro RJ – Velha Mania: desenho brasileiro, na EAV/Parque Lage
1985 – Santa Cruz BA – Coletiva – itinerante
1985 – Santa Rosa BA – Coletiva – itinerante
1985 – Pedra Vermelha BA – Coletiva – itinerante
1985 – Acaru BA – Coletiva – itinerante
1985 – Monte Santo BA – Coletiva – itinerante
1985 – São Paulo SP – 3º Salão Paulista de Arte Contemporânea, na Fundação Bienal
1985 – São Paulo SP – 7ª Exposição de Belas Artes Brasil-Japão, na Fundação Brasil-Japão
1985 – Tóquio (Japão) – 7ª Exposição de Belas Artes Brasil-Japão
1986 – Belo Horizonte MG – 18º Salão Nacional de Arte, no Museu de Arte de Belo Horizonte
1986 – Camaçari BA – 1º Salão Metanor/Copenor de Artes Visuais da Bahia, na Metanor/Copenor
1986 – Curitiba PR – 43º Salão Paranaense – premiado
1986 – Curitiba PR – 7ª Mostra do Desenho Brasileiro, no MAC/PR
1986 – Fortaleza CE – 1ª Exposição Internacional de Esculturas Efêmeras
1986 – Recife PE – 36º Salão de Artes Plásticas
1986 – Salvador BA – Imaginário Tropical, no Escritório de Arte da Bahia
1987 – Feira de Santana BA – Octaedro, na Galeria Raimundo Oliveira
1987 – São Paulo SP – 19ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1988 – Salvador BA – 1º Salão Baiano de Artes Plásticas, no MAM/BA
1988 – São Paulo SP – 15 Anos de Exposição de Belas Artes Brasil-Japão, na Fundação Mokiti Okada M.O.A.
1988 – Veneza (Itália) – 43ª Bienal de Veneza
1989 – Havana (Cuba) – 3ª Bienal de Havana
1990 – Salvador BA – Canudos, na Fiat
1991 – Brasília DF – Arte – O Eterno Reciclar, no Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal
1991 – São Félix BA – 1ª Bienal do Recôncavo, no Centro Cultural Dannemann
1992 – Salvador BA – A Religiosidade na Arte Baiana Contemporânea, na Galeria Acbeu
1993 – Feira de Santana BA – Inauguração do Espaço Cultural Banco do Brasil
1994 – Salvador BA – 1º Salão MAM/BA de Artes Plásticas, no MAM/BA
1995 – Feira de Santana BA – Artistas da Bahia, no Espaço Cultural Ponto do Livro
1996 – Lisboa (Portugal) – Pintura e Escultura do Nordeste do Brasil, no Espaço Oikos
1997 – Salvador BA – Um Brinde ao Café, no Espaço Cafelier
1998 – Paris (França) – Bahia à Paris: arts plastiques d’aujourd’hui, na Galerie Debret
1998 – Salvador BA – Tropicália 30 Anos: 40 artistas baianos, no MAM/BA
1999 – Curitiba PR – Arte-Arte Salvador 450 Anos, na Fundação Cultural de Curitiba. Solar do Barão
1999 – Rio de Janeiro RJ – Arte-Arte Salvador 450 Anos, no Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro
1999 – Salvador BA – 100 Artistas Plásticos da Bahia, no Museu de Arte Sacra
1999 – Salvador BA – Arte-Arte Salvador 450 Anos, no MAM/BA
Fonte: Itaú Cultural

As obras de Juraci Dórea aparecem no seguinte catálogo publicado pela Acervo Galeria de Arte.

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